Tarciana Medeiros assume o BB e fala em diversidade, agricultura familiar e empreendedores
São Paulo – Pela primeira vez em 214 anos de história, o Banco do Brasil terá uma mulher no comando. Com mais de duas décadas como funcionária de carreira da instituição, a paraibana Tarciana Medeiros tomou posse nesta segunda-feira (16). Assim, junto com Maria Rita Serrano à frente da Caixa Econômica Federal, ela passa a formar a dupla de mulheres no comando dos dois principais bancos públicos do país.
Emocionada, Tarciana contou que a primeira reação ao saber que iria presidir o BB foi ligar para “mainha” e para “titia”. Em nome da sua esposa, Dania, agradeceu o apoio de toda a sua família.
A posse ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira-dama, Janja da Silva marcaram presença na cerimônia. Assim como a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e o ministro interino da Fazenda, Gabriel Galípolo – ele substitui Fernando Haddad, que está no Fórum Econômico Social, em Davos.
Tarciana também prestou homenagens a Ema Medeiros que, em 1924, aos 20 anos, foi a primeira mulher escriturária do Banco do Brasil. Dona Ema trabalhou por 30 anos, na agência de Pelotas (RS), e morreu em 2006, aos 102 anos. A nova presidenta do banco ressaltou a coincidência “muito bonita” de carregar o mesmo sobrenome da primeira funcionária. “Hoje as mulheres ocupam cada vez mais espaço no BB, fazem a diferença no mercado de trabalho, e conquistarão cada vez mais espaço, onde elas quiserem”, disse a nova presidenta.
Nesse sentido, ela também destacou a diversidade dos trabalhadores do banco. “Nosso banco é diverso, em um país diverso. Somos a cara do Brasil.” Além disso, observou a diversidade etária e de renda da clientela do banco.
Banco da diversidade
Assim, ela prometeu avançar na construção permanente de um novo modelo de relacionamento com os clientes, que vão desde empreendedores individuais a grandes corporações, do agricultor familiar ao agronegócio. Ao mesmo tempo, prometeu “retorno justo” aos cerca de 1 milhão de acionistas do banco.
“Vamos promover ainda mais as boas práticas agrícolas, com destacado apoio à agricultura familiar, aliando crescimento e sustentabilidade no campo. Outro ponto importante é o fomento ao empreendedorismo, estando ao lado do pequeno lojista, do comerciante, do prestador de serviços, orientando a sua vida financeira e apoiando o desenvolvimento econômico.
Internamente, disse que a diversidade não vai ficar apenas no simbolismo da sua nomeação. “Construiremos diagnósticos precisos e adotaremos medidas concretas, para diversificar ainda mais os times e as lideranças.” Por isso prometeu aos 85 mil funcionários do BB uma gestão pautada pela transparência, e pelo diálogo “aberto, franco e propositivo”.
“Vibraremos juntos a cada projeto implementado, cada melhoria de processos, cada cliente satisfeito, cada cidadão respeitado, cada retorno de capital investido. E nos sentiremos realizados ao saber que podemos participar ativamente da transformação do país em uma nação que valoriza o seu povo e a sua cultura. Tudo isso feito, gerando menos desigualdades e muito mais oportunidades”, declarou Tarciana.
Lula atacou o machismo
Em seu discurso, Lula se disse “estarrecido” por somente agora o BB ter a primeira mulher no comando da instituição. “Pensei que tinha machismo no Brasil, mas no BB, quem escolhe a direção é mais do que machista”, afirmou. “Devem ser preconceituosos com relação à mulher. Não devem gostar de discutir a questão da igualdade.”
Nesse sentido, ele afirmou que os machistas vão ficar ainda mais “nervosos”. Isso porque ele voltou a falar do projeto, em tramitação no Congresso Nacional, que estabelece igualdade salarial entre homens e mulheres que ocupam a mesma função, conforme determina a Constituição. “Precisamos organizar e fazer com que esse projeto seja votado, para que a gente comece a consertar tudo aquilo que não aconteceu no século 20, a gente fazer acontecer no século 21”.
Além disso, Lula destacou que Tarciana chega ao comando do BB devido a sua competência técnica e ao respeito que angariou entre os colegas ao longo da sua trajetória. E que tem dois compromissos prioritários: tratar bem os trabalhadores do banco e “cuidar do povo que mais necessita”. Lembrou que durante os seus dois primeiros mandatos, promoveu a inclusão bancária de cerca de 70 milhões de brasileiro.
O presidente também afirmou que quer o Banco do Brasil “acreditando” na agricultura familiar, “porque é a que coloca mais alimentos na mesa dos brasileiros”. E também espera que o banco seja o campeão em empréstimos consignados. “Quero mostrar para vocês uma coisa que dizia em 2003, e volto a dizer agora: o pobre, nesse país, não é o problema, é a solução. Na medida em que ele é incluído na economia. E nós vamos outra vez incluir o povo pobre na economia, e queremos que o BB cumpra com a sua parte.”
Apoio à cultura
Margareth Menezes saudou o feito inédito da primeira mulher a ocupar a presidência do BB, uma das maiores instituições financeiras da América Latina. “O fato de ela ser negra diz mais ainda sobre o valor histórico desse momento”, afirmou a ministra.
Na sequência, ela destacou a importância da Cultura como “setor pujante, responsável por mais de 3% do PIB”. Lembrou que os trabalhadores do setor cultural sofreu “muitíssimo” durante o governo Bolsonaro, quando foram “criminalizados”. E também por conta da pandemia.
Disse que a recente tentativa de golpe, quando bolsonaristas terroristas depredaram as sedes dos Três Poderes, tem a ver com o “descontentamento” de alguns com a transformação social e a ascensão da população negra e de grupos excluídos ao poder. “Tem a ver com racismo, misoginia, homofobia, e tantos tipos de preconceitos e exclusão.” Mas ressaltou que o povo brasileiro disse “não à ditadura e à violência”. “Queremos paz, amor e esperança. Queremos nossa cara, nosso jeito de ser, nossa representatividade”, frisou a ministra.
Nesse sentido, para saudar o momento de renovação com Tarciana Medeiros, a ministra Margareth anunciou o lançamento de novo edital de seleção dos projetos culturais 2023-2025, uma parceria entre o BB e o ministério da Cultura (MinC). Ela defendeu um novo modelo da gestão da Lei Rounet, perfeiçoado, com diálogo entre as diferentes linguagens culturais, com melhora na distribuição de recursos, ampliando as oportunidades para novos agentes culturais.
Fonte-texto : Por Tiago Pereira, da Rede Brasil Atual
Imagens: Ricardo Stuckert